quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vaidade precoce

Menininhas sempre gostaram de desfilar com o sapato da mãe e fazer bagunça com batons. 

Agora, elas também são clientes de tratamentos em spas, fazem hidratação facial com hora marcada e viraram público-alvo de produtos de beleza.
Isadora Brant/Folhapress
Isabella Pequini, 10, recebe máscara de maçã em spa de SP
Isabella Pequini, 10, recebe máscara de maçã em spa de SP

Em 2010, a rede de spas Kalmma Zen, voltada ao público adulto, ofereceu tratamentos para cerca de 300 crianças em suas 14 unidades espalhadas pelo país.

No mês passado, o Eco Spa Urbano, em São Paulo, vendeu 30 pacotes de day spa infantil, com banho de imersão, massagem e tratamento de pés e mãos, por meio de um site de compras coletivas.

A clínica passou a oferecer serviços para crianças ao perceber que muitas mães levavam as filhas junto por não terem onde deixá-las.
Isadora Brant/Folhapress
Alana Monarcha, 5, toma banho de imersão com brinquedos com a amiga Isabella no Eco Spa Urbano, em São Paulo
Alana Monarcha, 5, toma banho de imersão com brinquedos com a amiga Isabella no Eco Spa Urbano, em São Paulo
Lá, bolinhas coloridas e brinquedos substituem as pétalas de rosas, nos banhos de ofurô para as pequenas.

Em outros spas há escalda-pés com bolas de gude e massagens com cremes de apelo infantil, como o de chocolate e o de cheiro de chiclete.

Os produtos, segundo as clínicas, são hipoalergênicos, naturais. "A proposta é mais lúdica e relaxante do que estética", diz Carolina Housska Castro, gerente do Eco Spa Urbano.

Foi por isso que a nutricionista Andressa Pequini deixou que a filha Isabella de Almeida Pequini, de dez anos, marcasse horário no spa que ela mesma frequenta.

De tanto acompanhar a mãe em visitas ao spa, Isabella passou a pedir para também ser incluída nos serviços, e virou cliente assídua.

Andressa, no entanto, diz que conversa com a filha para que não haja uma preocupação excessiva da menina com a beleza. "A gente sempre fala que ela ainda é criança, que não pode usar muita maquiagem."

Alana Freire Monarcha, de cinco anos, frequenta um spa desde os quatro. O contato aconteceu cedo por causa do trabalho da mãe, a esteticista Raquel Freire Monarcha.
A mãe diz que se preocupa com a vaidade da filha, e conversa com ela sobre o problema do exagero, mas não vê problemas na massagem. "Uma troca energética ajuda a criança a se acalmar."

POLÊMICA
No mês passado, o anúncio de uma linha de maquiagem "anti-idade" para garotas de oito a 12 anos, no Walmart dos EUA, gerou críticas em blogs. A rede de supermercados norte-americana afirmou que a linha geoGIRL não contém produtos anti-envelhecimento, como chegou a ser propagado.

Disse também que a linha será divulgada para os pais, a quem cabe decidir a idade certa para que suas filhas usem maquiagem.

Para Maurício de Souza Lima, hebiatra (que cuida de adolescentes) do Hospital das Clínicas de São Paulo, a vontade precoce de consumir produtos e terapias ligados à vaidade tem grande influência da família.

"Criança precisa brincar, ficar suja de terra. Observamos uma antecipação não só da puberdade, mas do comportamento adolescente."

"Meninas de nove anos, hoje, falam no celular de namoro, querem voltar de festa na madrugada e fazer coisas de quem tem 17", diz Lima.

Segundo ele, isso é o efeito da permissividade dos pais e do acesso das crianças a uma enxurrada de informações.

O pediatra Ricardo Halpern considera inadequado o uso de maquiagem e de serviços de spa por crianças e pré-adolescentes --mesmo que só para relaxar. "Criança se desestressa brincando."

Segundo Halpern, os pais acham que é inofensivo, mas não é. "É preciso avaliar bem riscos e consequências."

O problema, segundo ele, é eliminar etapas e antecipar a adolescência, acelerando também o contato com álcool, por exemplo.

O hebiatra Maurício Lima diz que cada pai deve decidir o que é melhor para seu filho e explicar sua decisão.

fonte:folha

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